sexta-feira, março 18, 2005

Vôo livre, Leila Diniz e eu

Hoje amanheceu chovendo, o inverno chegou, parece conversa de maluco, mas não é, aqui no nordeste- Natal- o mês das chuvas é o inverno e ponto final. Estranhei muito quando cheguei, não entendia, estamos abaixo do Equador, como inverno? Desisti de entender e hoje estou esperando o inverno como todos.

Que venha a chuva! E tem mais, se não chovesse até amanhã, dia de S.José, não choveria mais e teríamos uma seca terrível, ainda bem que está chovendo. No ano passado choveu o mês de fevereiro todinho, a casa ficou mofada, a geladeira suava sem parar, será que este ano vai ser o mesmo?

Escrever diariamente tem sido uma experiência nova para mim. Eu há algum tempo venho mantendo contato com alguns amigos via internet, repassando textos, fazendo comentários, mas poucos respondiam, agora estou tendo uma resposta maior, amigos queridos com quem não tinha quase contato estão reaparecendo.

Escrevo com receio, não quero parecer narcisista demais- um pouco, não faz mal- e escrever coisas que só interessariam aos mais íntimos.
Outro dia minha ex cunhada leu o que escrevi sobre as mulheres e disse: “você esqueceu a Leila Diniz!” Não esqueci, não, mas a Leila Diniz não foi importante para mim, eu me via no mesmo barco que ela, sou filha de general, mãe católica- naquela época atuante- vivi em Curitiba até os 16 anos, família repressora, estudei em colégio de freiras francesas insuportáveis. Virei a mesa, não casei, tive filhos depois dos 40 anos, escolhi ser psicanalista, enquanto as moçoilas da época estavam fazendo enxoval, juro, elas tinham um bau, e cursando a escola normal. Ganhei muito, perdi ...sei lá o que perdi? Depois que tive os filhos acho que perdi muito pouco, os filhos são muito importantes para mim, sem eles eu, com certeza, estaria mal, mas isto é papo para outro dia.
Eu e Leila Diniz freqüentávamos a mesma praia, Ipanema, e vivíamos como achávamos certo, sem saber se os vizinhos estavam controlando-eu tinha uma vizinha de corredor, bem em frente e via a sombra dela por baixo da porta sempre que eu saía, ou me despedia de um namorado, nunca me importei...era uma beata, pobre mulher. Leila Diniz é importante para as gerações que nos seguiram, eu me orgulho de ser da mesma geração.
Eu tinha vinte anos quando fui morar em Ipanema só com minha irmã, era dona do meu nariz, o que significa que quebrei a cara algumas vezes, mas nada muito grave, afinal mesmo os superprotegidos quebram a cara, faz parte. Nunca li Simone de Beauvoir, comecei a ler um livro dela, acho que é “ A convidada”, tenho aqui, agora depois dos 40, achei bom, era um livro onde havia uma relação a três- eu nunca fui liberal a este ponto, acho que amor e sexo é bom a dois- mas não lembro porque cargas d’água, não li até o fim. Eu nunca leio até o fim se não gostar muito. Comecei a ler o “Código da Vinci” e parei no terceiro capítulo, para que perder tempo lendo algo que não está me interessando apenas porque todos estão lendo? Li Sartre, gostei. Acho a figura de Simone de Beauvoir importante, mas não li. Eu não li muita gente boa, fui lendo apenas o que eu queria, sem compromisso com nada nem ninguém.

Nosso apartamento era ponto de encontro de amigos, tive sorte na vida, sempre fui seletiva, nunca tive problemas, nos reuníamos e saíamos para algum lugar. Às vezes alguém aparecia com um “baseado”, fumava quem quisesse, quem não quisesse não fumava, eu era um pouco medrosa, vivíamos em plena repressão política, fui comprar “O capital” depois da abertura. Este é um outro assunto.

Havia sempre uma festa, um filme, uma boate para ir, ou simplesmente dávamos voltas sem parar na Lagoa Rodrigo de Freitas com Pedro, filosofando e rindo. Pedro é um amigo que considero gênio, ele iniciou várias faculdades, acabou fazendo direito, é advogado e tradutor de umas oito ou nove línguas, éramos vizinhos na Rua Nascimento Silva, ele ainda está lá. Foi meu amigo e confidente durante anos, há coisas, detalhes da minha vida que ele lembra e eu não, é engraçado... ele é uma figura, rio muito com Pedro, ele e Pedro Alexandrino, o primo, me fazem rir às lágrimas, porque são inteligentíssimos e fazem humor. Coloquei fazem em vez de faziam, porque Pedro está lá, ao alcance, e ainda me faz muito bem.

Bom, chega, tenho que escrever uma palestra sobre auto estima, aliás, já está escrita, preciso modificá-la para uma nova platéia. Não tenho conseguido tirar o foco daqui do blog e preciso focar também a auto estima. Aliás, este blog melhorou muitooo minha auto estima, eu estava muito mal, esgarçando, estou retomando meus pontos e dando os nós .

Esta foto me lembra "Mar adentro", é um filme imperdível se você não tem medo de olhar para dentro. Há um vôo libertador no filme, lindo, me emocionei muito. É um filme sobre a morte e o amor, não é possível separar amor e morte. É um filme sobre as possibilidades e impossibilidades, vá ver, você sai com vontade de viver e envergonhado pelas suas impossibilidades, foi assim que eu vi, você já viu? gostou? eu adorei. O Javier Barden está charmoso e perfeito, todos estào perfeitos.

Bom dia!

3 comentários:

franka disse...

laura, adoro o teu jeito sincero de escrever.
é isso que faz a diferença.
a mais absoluta sinceridade.
um beijo.

christophersmom disse...

Oi Laura, fico feliz em saber saber que você é leitora do meu blog. Gostei desse post de livre associação, meio que uma "apresentação" sua.

Laura_Diz disse...

Gente, que luxo, eu nem acredito que estejam gostando tanto...eu escrevo livremente, na hora. Fico muito feliz por estar podendo dividir com pessoas como vcs minhas lembranças.E são tantassss.
Leila, vc que me conheceu agora dê uma lida nos primeiros,eu me apresento alí, estou aqui há muito pouco tempo, nem 20 dias... Obrigada a todos!
Abs,
Laura