A lembrança roubada
Atravessa o longo corredor, passos lentos. Desconhecidos, recostados na parede, o cumprimentam no trajeto até o quarto da mãe.
Vacila na porta, enquanto alguns familiares, que há muito não via, estendem a mão e se afastam para que fique só. Ela está com um vestido cinza, meias e sapatos pretos. Sente um calafrio e deseja cobrir o corpo. “Sinto muito frio no inverno”, parece ouví-la dizer. Toca com a mão esquerda a perna magra, antes forte. Vem a imagem dela subindo a montanha com seu irmão no ombro, o pai um pouco à frente. Urge fugirem- é guerra. Toca-lhe a testa, debruça-se e a beija.
O irmão aproxima-se e o abraça. Neste instante, percebe que a lembrança foi roubada- ainda não havia nascido.
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