quarta-feira, julho 28, 2010

E não matei a cobra...



Esta noite sonhei que encontrava uma cobra no jardim. Ela entrava depois num balde, e, mais tarde, estava no meu quarto sob a cama. Era uma cobra pequena- aqui temos num vidro umas três cobrinhas corais. A do meu sonho era sem graça, sem cor definida, tinha menos de um metro.
Eu chamo meu filho Dan para tirá-la do quarto, é ele quem pega as cobras, uma vez ficamos com a cobra viva dias numa gaiola apropriada. Meu filho no sonho não me ouve. E ouço então minha voz chamando: Pai!
Acordei.
Interessantes, os sonhos. Meu pai está morto, é uma memória da infância, era o pai que chamávamos à noite, era ele quem vinha me confortar dos pesadelos. Ficava deitado ao meu lado até que percebesse que poderia sair, o medo havia ido embora.
Meu pai foi um homem muito interessante, já contei antes. Era militar, chegou a general e foi a pessoa mais simples que conheci de perto. De uma simplicidade que envergonhava as filhas adolescentes. Andava muito mal vestido, fazia coisas como no lugar do cinto amarrar uma fio qualquer, uma cordinha- isto depois de aposentado, claro- de farda era lindo, elegante. OK edipiana, quem não é? Ele trabalhou como engenheiro, também era, na fábrica de Álcalis no Arraial do Cabo, contam que nos dias frios, quando dava plantão ele colocava jornal no peito para se aquecer e nos pés- este truque eu conheço e usei muito em Curitiba, quando era menina, a única coisa que aquecia meu pé era o jornal dentro do sapato- era muito frio. Odeio aquele frio e não havia botinhas de sola de borracha, estas coisas. O colégio de freiras- detesto- exigia uniforme curto, pernas no frio, sem agasalhos a não ser o casaquinho azul marinho- odeio.
Ele também foi muito econômico, mi madre diz que era miserável, ele era mão fechada, mas deixou casa para todos os cinco filhos. Se fosse miserável não teria nos dado nada de mão beijada. Tudo que temos foi ele quem deu- não consegui construir nada sozinha- não sei ganhar
dinheiro, talvez por esta relação com o pai- que não dava muito, mas o suficiente.
Neste mesmo sonho está uma cliente minha. Eu ia atendê-la na hora que precisava matar a cobra- ela diz que precisa sair na hora porque precisa trabalhar.
Ontem ela falou do pai, que nem lembra, ele morreu quando era menina. Disse que tem ótimas lembranças dele através da mãe- que foi generosa e lhe desenhou um pai bom com quem pode se identificar em muitos aspectos. Ela teria a delicadeza do pai. Tenho muito do meu pai, o cuidado com o corpo, a alimentação saudável, e o que mais gosto dele, a justiça- nunca o flagrei numa injustiça- tinha preconceitos contra cigarros, por exemplo, dizia: Aquela lá até fuma. Que é uma expressão que diziam antigamente,mas não era um hipócrita, falso moralista, como a maioria da geração dele. Eu também não sou.
Bom, é isso, chega de lembranças.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi Laura,
tão bom sempre te ler, contando das suas coisas. E vc fala de um jeito tão fácil e verdadeiro, eu te admiro muito mesmo. E falando em cobras, quem já não sonhou com elas né? eu também acho muito interessante e gostaria de ler mais sobre isso.
bjs minha amiga
madoka