Leia ouvindo aqui Billie Holiday, a minha preferida, é trilha sonora perfeita para este conto.
Bastava isto
Chegamos na hora combinada, ele caminhava à minha frente. Meu coração em descompasso, as mãos frias pela ansiedade. Se tocasse minhas mãos eu ficaria envergonhada. Passo as mãos na saia preta. A vontade é de correr, chamar seu nome, mas não, respiro fundo e diminuo o passo. Ele alcança o restaurante antes de mim, vejo quando corre o olhar pelas mesas. Resolvo adiantar o passo, antes que escolhesse uma mesa. O ‘maître’ pergunta se desejo uma mesa, respondo que estou com aquele senhor, apontando para ele.
Chego por trás, toco seu braço, digo: “Oi, sou eu". Ele dá um sorriso tenso e estende a mão para mim. Gelei. Pergunta: "Que tal sentarmos ali?” mostrando uma mesa no fundo do restaurante. Penso: "Ele sabe que eu gosto dos cantos", e me sinto mais confortada.
Sentamos, olhos nos olhos, sorrimos.
Ele pergunta: "Fez boa viagem?"
-"Fiz, foi tudo bem, mas ando sentindo frio, estou desacostumada com o frio".
Escolhemos o que comer, eu escolhi algo leve, estava sem vontade nenhuma de perder tempo comendo, queria falar, ouví-lo.
Como eu previa, ele disse muito pouco, ouviu bastante de mim, fez perguntas. Eu não sabia como acabaria aquela conversa. Ele não tinha pressa, mas eu perguntei: "Tem compromissos esta tarde?”
Ele riu e disse: “Meu compromisso hoje é com você".
Mesmo sem saber bem o que ele queria dizer, meu coração disparou novamente. Pensava: "Será que me convidará para sair mais tarde?" Eu viajaria dois dias depois, queria que o tempo parasse. Quando eu disse, aflita, que eu tinha tanto medo de que ele não pudesse me ver, ele veio em minha direção, segurou minhas mãos e disse: “Eu não poderia fazer isto”.
E eu o amei, mais ainda, naquele instante. Não precisava de mais nada. A mim bastava isto.
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