segunda-feira, abril 02, 2007

Lembranças: Carta Carlinhos






















Carlinhos está à esquerda, com camisa de botões. César é o outro.

É interessante. Nós nos amávamos muito. Ele era bissexual, nunca quis fazer sexo comigo, dizia que ia estragar a amizade, não sei se foi por isso, não importa. Foi meu melhor amigo.
Leiam o que diz da nossa relação. É muito lindo e confortante ter tido uma amor assim. Eu acho muito estranho amigos que se escondem, que não gostam de serem vistos como são. Eu sempre fui muito transparente com meus amigos e Carlinhos confirma isto. Leia e me diga se não foi um privilégio tê-lo conhecido. A carta é enorme- 4 páginas grandes, copiei uns trechos. Escreveu de Lisboa, onde estudava medicina, voltou, não agüentou viver lá.
Será que existem ainda amigos assim? Não sei...as pessoas não têm mais tempo, uma pena.

Clique na imagem que aumenta e poderá ler.



















Está aqui copiada a carta, alguns trechos:

"Apenas uma frase pequena me deu notícias de ti neste tempo todo:"Estive com a E. no Palace". Eu aqui me rôo de saudades, preocupado também em como vai o teu espírito e ânimo, se tens estudado...


... De todo o mundo me lastimo apenas de ti. Porque não consegui te ajudar tanto quanto eu gostaria, e a minha amizade por ti exigia. Por isso me sinto culpado, porque em nada cooperei para que tivesses um sentido melhor nas tuas relações com o mundo ...Me sinto culpado por tua batida de carro, porque terias ficado comigo aquela noite... Aumenta a minha inquietação te saber sozinha ai. E mesmo que ainda estejam todos, a tua solidão. Te acho parecida comigo, E., que dentro das coisas, e entre tantas pessoas, consegue se sentir tão só. Isto se passa comigo, desde há anos. Desde Livramento, onde eu estava, mas o meu interior não deixava estar. Eu era um estranho no meu próprio meio, o que dificultava meu diálogo com todos. No colégio também era assim- achava eu-porque era no colégio. Acabou um pouco quando conheci C., é esta pessoa que os outros não se dão conta do extraordinário que é. E que sempre me deixou livre para eu ser como queria...


Gostaria que tu me escrevesses sempre, preciso saber de como tu te sentes. Não tenha pejo em contar o que quiseres e com a constância que desejes.
Talvez com as tuas cartas eu me sinta mais animado e mais acompanhado. É ruim olhar em volta e só ver pessoas desconhecidas. Eu sei que isto acaba com o tempo, mas tens um lugar em mim que mar nenhum separa. E não sei se isto adianta para ti, mas penso muito em ti, nas nossas conversas todas, nos nossos serões que me deixavam preocupado pelo teu pai.
Mas como fui real contigo como não fui com outra pessoa, facilita a estima grande que te dedico, porque não foi nunca preciso ser educado demais, ou discreto demais ou tolerante demais para comigo e para contigo também.
Facilitamos as coisas entre nós, hein, E.? assim acho que devia ser com todo o mundo. Nossos defeitos e qualidades presentes com os nossos sorrisos e lágrimas. E eu me mostrei com as minhas contradições e minha constâncias que me fez merecer a tua amizade que muito me orgulho e honro.

O frio aqui não consegue ser tanto, ao ponto de esfriar a amizade grande que sinto por ti.
Um beijão do Carlinhos".

E este final de uma outra que acabo de achar:
"É fácil viver . E eu desejo muito que tu vivas sempre bem: tranqüila, feliz ,amando todo o mundo e que sejas- como já acho que és- uma grande ilha de paz e ternura com um porto enorme cheio de poesia, tranqüilidade e amor para todo o mundo e para mim, que te mando um beijão.
Carlinhos".

Tá bom, chega. Sou capaz de passar o dia aqui lendo as cartas dele, são muitas.

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